terça-feira, 24 de setembro de 2013

Estado do Rio Grande do Norte quer reformar avenida ao custo de R$ 65 milhões por km

Estive na cidade de Natal -  RN,  para uma palestra sobre mobilidade urbana na sede OAB, coincidentemente no mesmo  dia aconteceu  uma audiência pública para apresentação do projeto de reestruturação da Av. Roberto Freire, uma importante via que liga a zona  leste a zona sul , é praticamente a principal vitrine da cidade de Natal, ligando o aeroporto a rede hoteleira, parques das dunas e os bairros mais abastados de Natal,  aproveitei a data  para assistir a justificativa do Governo do Estado para reforma cujo objetivo é acrescentar novas faixas de rolamento nos dois sentidos da via, calçadão e construção de três túneis. Segundo ambientalistas ( Blog do Planeta)  para duplicar a avenida, o projeto precisará suprimir cerca de 23 mil metros quadrados do Parque Estadual das Dunas, uma área protegida do Rio Grande do Norte que foi reconhecida pela Unesco como patrimônio ambiental na Mata Atlântica. Além disso, o projeto prevê a derrubada mais de 400 árvores do entorno da avenida. Há mais movimentos contrários do que favoráveis ao projeto do governo do Estado,  é o caso de  Nevinha Valentim , representante do Comitê Popular Copa Natal 2014,  “O projeto é cheio de problemas. É um projeto caro, ineficaz, que privilegia o transporte individual em detrimento do transporte coletivo, sofre descontinuidade porque não possui conectividade com a malha viária da cidade, fere mortalmente o Parque das Dunas e desrespeita a vontade popular. Queremos um Plano Diretor de Mobilidade Urbana a ser construído com transparência e participação da sociedade”, conclui.

A Secretária de planejamento do Estado do Rio Grande do Norte, nesta mesma  tarde na Assembléia Legislativa tentava justificar a capacidade de individamento do Estado no lugar de tentar explicar a necessidade de reestruturação de uma avenida numa cidade com cerca de1 milhão de habitantes que não tem nenhum sistema estruturado de transportes públicos, tais como trens, metrôs, corredores de ônibus BRT, VLTs e sequer uma malha cicloviária e o mais importante é o alto custo da obra,  R$ 260 milhões para reestruturar 4 km de avenida. Trata-se da repetição de erros cometidos nas grandes cidades que optaram pelo sistema rodoviarista e acabaram afundando a cidade com mais carros e congestionamentos. Além disso, ao longo da avenida pode-se notar grandes empreendimentos imobiliários, Shoppings, Centros universitários que irão atrair milhares de automóveis que obviamente escolherão a via para acessar as áreas centrais.  Há bem pouco tempo atrás a cidade de Londres resolveu fazer um investimento milionário  construindo um anel viário (M-25) ao redor da cidade, cujo objetivo era melhorar a mobilidade urbana, fazendo com que os carros utilizassem estes anéis no lugar de cruzar a cidade, aconteceu justamente ao contrário, os anéis levaram muito mais carros para o centro de Londres e a cidade precisou implementar uma série de ações para controlar a demanda de automóveis na cidade através de  pedágio urbano, zonas de baixa emissão, restrição de estacionamentos  entre outras medidas de gerenciamento de mobilidade, isso aconteceu em Londres uma cidade bem servida de transportes públicos de todo tipo.
Minha surpresa se deu exatamente no custo que  chega a ser 5 vezes mais cara do que o BRT Transoeste do Rio de Janeiro, compare abaixo o que é o BRT Transoeste:
Extensão: 56 km
Capacidade : 220 mil passageiros dia 
230 ônibus articulados
74 estações
9 terminais

Foram criadas novas vias acesso, requalificação urbana e obras estruturais.
Custo por KM =  R$ 13 milhões
O custo da reestruturação da Av.  Roberto Freire é de R$ 65 milhões por km

O Brasil precisa avançar em relação a Mobilidade Urbana,  recursos limitados do governo federal  não podem servir para obras estruturais que na prática  inviabilizarão as cidades nos próximos 3 , 4 anos. É preciso investir em obras estruturais integradas com os sistemas de transportes para os próximos 20, 30 anos,  questões políticas não podem sobrepor as questões técnicas, o Brasil já conta com recursos limitados e é por isso que as obras precisam ser muito  bem pensadas. É preciso diminuir as distâncias , através dos desenvolvimentos dos bairros, é preciso investir em sistemas de transportes públicos e não motorizados.  A lei de mobilidade urbana estipula um prazo de 3 anos para começar a cobrar os planos de mobilidade urbana, mas as cidades comprometidas com o bem estar de seus cidadãos já deveriam ter tomado a iniciativa de preparar as suas cidades para o futuro apresentando o seu plano de mobilidade para discutir com a população.

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